11 setembro 2010

Somos muitas, mesmo sendo duas.

Eu queria ser poeta, conhecer o ofício de recolher palavras, realizar a proeza de desvendar os silêncios e descobrir o que o outro fala, mesmo quando ele não diz. Eu queria ser amigo dos versos, possuir as asas que à inspiração pertencem e alcançar a palavra que possa ser a tradução do amor que sinto por você. Mas do poeta eu só possuo os óculos. Óculos são instrumentos que ampliam a visão, o amor também. E já que não sou poeta, o amor é o que me resta. Desde quando a vida me permitiu conhecer você, tenho experimentado a beleza do significado da amizade. Quando nossos caminhos se encontraram, foi amizade à primeira vista. Depois daquele encontro, meu mundo ficou mais bonito. Sua presença quando os dias eram difíceis, quando pensei que felicidade era coisa de outro mundo, sua palavra me convenceu de que eu deveria continuar. Suas alegrias despertando minhas alegrias, suas risadas me fazendo rir também, nossas madrugadas de conversas, vida dividida nas pequenas coisas.

Costura do tempo nos aproximando sempre mais. Mas quando surgiram nossas diferenças, quando descobrimos nossos maiores defeitos, manifestações de protesto, crises nervosas, discursos desaforados, a promessa de que eu iria embora definitivamente de sua vida e de que nunca mais voltaria a pronunciar seu nome. Mas depois a saudade, a ausência mensurada, o arrependimento, o pedido de perdão. E o aprendizado de que quanto mais a gente ama, muito mais a gente precisa perdoar. O amor é o motivo do perdão, e o perdão é a continuidade do amor. Obrigado por ter me ajudado a entender isso. Estar ao seu lado é sempre motivo de festa. Quando estamos juntos, a vida ganha um significado diferente.

Retiramos o dia comum do calendário e o transformamos em feriado. Extraímos felicidade das coisas mais simples, e multiplicamos a graça de cada instante. Eu não sei dizer quem eu sou sem que me recorde de você, se da minha vida eu sou o sujeito, você é um adjetivo. Você me empresta qualidade, você me devolve quando sou roubada, você me encontra quando estou perdida. Pode ser que um dia a gente venha a se perder nas distâncias deste mundo, pode ser que um dia a gente se separe, nem sempre a vida respeita o que a gente quer. Mas uma coisa é certa, se pela força da distância você se ausentar, pelo poder que há na saudade você há de voltar. Mesmo que o tempo passe, você fique velinha, e viva aquela frase: "Põe meu amigo no sol, tira meu amigo do sol", mesmo que você perca toda a sua utilidade, dentro de mim você continuará tendo significado.

E haverá sempre um lugar reservado em minha casa para você chegar, quando quiser. Eu não gostaria que a morte nos alcançasse sem antes poder lhe dizer que nas miudezas dos meus dias que passam você é um grande acontecimento que permanece. Amar é um recurso humano que nos faz eternos, recolhe e resguarda e não deixa morrer. Retira da mira do tempo, e aconchega a pessoa amada na certeza: Você não vai passar! Hoje, neste dia em que a vida nos permitiu um encontro nestas páginas, neste instante em que seus olhos se ocupam das palavras que meu coração resolveu improvisar, eu gostaria de lhe agradecer pelas inúmeras vezes que você me enxergou melhor do que sou.

Pela sua capacidade de me olhar devagar, já que neste vida muita gente já me olhou depressa demais. Eu que nem sempre soube acertar, aprendi com você que arrependimento é bem melhor do que culpa. Obrigada por você não ter desistido de mim. Obrigada pelo seu dom de multiplicar o que sou e o que posso. Eu, que na solidão dos meus dias sou tentado a pensar pequeno. Quando a encontro, sou sempre surpreendida com seu poder de me fazer ver o mundo com as mesmas lentes dos poetas. Obrigada, hoje e sempre! O que nos torna amigas é a capacidade de sermos muitas, mesmo quando somos duas. - Padre Fábio de Melo.

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